Do Outro Lado De Lá Testo

Testo Do Outro Lado De Lá

Seu vigário esse papé

Recebi da sua mão

Quando casei com zabé,

Fia do são cristão,

Espie sua assinatura
De tão véa tá escura

Que inté prá lê dá trabalho

Mas foi o senhor que fez

Eu vim aqui outra vez

Pro senhor quebrá meu galho

Me empreste logo o rosário

E diga donde eu me ajuelho

Corra e tire do sacrário

O livro de dá conselho

Se ajueie e vá rezando
Me ajude tô precisando

Tomar umas providência

Zabé morreu faz três ano

Mas vive me acatruzando

Que eu já tou sem paciência.

Seu padre essa escritura

Ou seja, esses documento

É a lembrança mais pura

Que eu guardei do casamento

Merece tanto respeito

Que eu nem sei dizer direito

Quanto vale esse papé

Guardei com todo cuidado

Se ele hoje tá manchado

A culpada foi zabé,

Que antes de se casar

Era um doce de menina

Levava a vida a rezar

Tocando nas sarafina

Querendo imitar os anjo

Prá laçar esse marmanjo

Coma de fato laçou

Com as corda do má custume

Ensebada de ciúme

Que não sei onde ela achou.

Passei vinte e cinco ano

Vivendo nesse turmento

E faz três que tô morando

Do purgatório prá dentro

Tudinho por que zabé

Depois da lua de mé

Pegoou ter ciúme deu

E inté quando sonhava

Dava um pulo e se acordava

Prá mode brigar cum eu.

E eu dizia zabé...

Acaba com essa besteira

Tu sois a minha mulher

Deixa dessa ciumeira

Que o que é ruim não interessa

Vai prá missa, te confessa,

E ela ia? ia nada,

Ia pulá no terreiro

Do véi migué xangozeiro

Pai de santo da maiada.

Nos terreiro de macumba

Parecia uma paiaça,

Aprendeu a tocar zabumba,

Fumar e beber cachaça

Puxá peixera e brigar

E se eu ia lhe aconselhar

Zabé virava no cão

Dava febre, adoecia

Passava cinco, seis dias

Levando vela na mão.

Mas pior do que zabé

O sol não cobre outro traste

Onde ela butava o pé

Nunca mais nascia pasto

Gostava de uns mexerico

Dumas conversa, uns fuxico

Coisa de gente mesquinha

Foi num foi entrava em casa

Com os olhos da cor de brasa

Num sei de onde diabo vinha.

E mandado num sei pro quem

Um dia tomou uns porre

Caiu do carro do trem

Ficou morre mais num morre

Seu pai de santo veio cá

Levou ela pro gongar

Deu-lhes uns passe de magia

Junto com seu cambono

Zabé agarrou no sono

Morreu nesse mesmo dia.

Graças a deus, me livrei

Dessa cruz que eu carregava

Mas numa noite eu sonhei

Que zabé ia e voltava

Acordei sentindo um cheiro

De folha de marmeleiro

Com fumaça de escama

Abri os óio e vi um vulto

Me dirigindo uns insulto

Sentado no pé da cama.

Ah seu padre nessa hora

Fiquei mais frio do que gelo

Arripiou sem demora

Tudo quanto foi cabelo

Eu nunca fui de tremer

Nunca fui de temer

Assombração nem visage,

Mas quando vi a marmota

Me senti um idiota

Faltou-me folego e coragem.

As reza que faz sucesso,

Ha rezei que fiquei cansado

Rezei o credo as avessa,

O rosário atravessado

O padre nosso miudim

A oração de são longuim

Que minha avó me ensinou,

Mas quanto mais eu rezava

Mas a alma se enfiava

Debaixo do cobertor.

E eu pensando comigo

Que diabo essa alma qué

Passei a mão no imbigo

Pra vê se era muié

Era zabé sim senhor

Me deu no corpo um tremor

Um frio e um farnizim

Fiquei todo arrepiado

Que nem um bicho cercado

Por dez vira lata ruim.

Me esqueci da oração

De afugentar coisa feia

Também com tanta aflição

Quem é que não se aperreia

Por isso eu vim lhe pedir

Por sinhor correndo ir

Na cova que zabé tá

Jogar umas água benta

Pra vê se a peste se aguenta

Do outro lado de lá.